O ser humano é uma tríade de corpo, mente e alma, e o objetivo da prática do yoga é integrar esses três revestimentos do ser humano.
O Yoga pode nos tornar atraentes e belos?
Antes de responder a essa pergunta, vale a pena saber o que significa yoga, então deixe-me definir o que é yoga. O sábio Patañjali define yoga como “yoga citta vṛtti nirodhaḥ”. “Yoga é controlar ou acalmar a mente de suas correntes de pensamento”.
O ser humano é uma tríade de corpo, mente e alma, e o objetivo da prática do yoga é integrar esses três revestimentos do ser humano. A mente é o rei de todas as nossas emoções e mudanças físicas. A mente é a causa e o corpo é o efeito. De acordo com as emoções da mente, o corpo é moldado. Assim, a menos que a mente seja levada a um estado de quietude, é possível ter sempre um corpo bonito, poder emocional e um porte elegante?
Em segundo lugar, beleza é uma dádiva do criador. Alguém pode ser bonito, mas doente, tanto fisicamente quanto mentalmente. Há tantos santos e yogis que não são fisicamente belos, mas espiritualmente belos. Por exemplo, Louis Fischer, que escreveu sobre Mahatma Gandhi, chamou-o de o homem mais feio da Ásia!
Doenças e infelicidade estão aumentando apesar do avanço da ciência na compreensão do corpo e da mente. A prática do yoga, composta por aspectos físicos, éticos, mentais, intelectuais e espirituais, afeta a pessoa ao fazê-la experimentar subjetivamente em vez de fazê-la inferir por meras observações. A saúde é um benefício a ser conquistado pelo trabalho árduo.
Na verdade, o esquecimento completo da consciência física e da felicidade mental é positivamente beleza e poder dinâmicos. Quando alguém está livre de deficiências físicas e distrações mentais, naturalmente, é levado a adquirir conhecimento e sabedoria e a viver no reino do Ser supremo. Quando isso é alcançado, não significa que se possui não apenas um corpo saudável, forte e bonito, mas também um estado mental benevolente e tranquilo?
Vindo para a outra parte, a saber, dos poderes elevados da mente. Os poderes naturais de um yogi podem parecer sobrenaturais para as pessoas comuns, mas certamente não para ele mesmo. Para ele, a consciência é uma e única, seja num estado de subconsciência ou de superconsciência. As ansiedades e as preocupações da mente e as incapacidades do corpo são vencidas por diferentes estágios do yoga, juntamente com a vida correta, a compreensão correta e o conhecimento correto. Quando se alcança tanto, naturalmente a inteligência torna-se clara e aguçada; e a força da memória assim como a força de vontade são tão elevadas que parecem sobrenaturais para os outros.
O yoga pode desenvolver personalidade, essa atratividade em um indivíduo que exige atenção e respeito das pessoas em relação a esse indivíduo, mesmo se a pessoa não for, particularmente, fisicamente bonita?
Presumo que a sua definição de personalidade não significa aparência externa somente. A personalidade é, portanto, um todo integrado. Nesse caso, posso dizer com confiança que o yoga desempenha um papel muito importante no desenvolvimento dessa personalidade. Patañjali, o pai do yoga, explica que yoga significa controlar as atividades da mente e trazê-las para uma atenção unidirecional. É uma ciência que lida com a mente. A mente é o espelho da alma porque a alma é refletida através das ações da mente e do corpo. Você concordará que é mais difícil controlar a mente do que o corpo, porque a mente é mais sutil em comparação com o corpo. A mente é facilmente atraída em direção aos objetos externos. Portanto, eu poderia dizer, atrair a mente de volta ao pensamento interior ou ao mundo interior para o crescimento da personalidade mental é yoga.
Por mundo interior quero dizer o conhecimento que se adquire sobre o que está acontecendo dentro do nosso sistema, que é o universo interior – ou você pode chamá-lo de “espaço do conhecimento”. A consciência composta de mente, inteligência e consciência do “Eu” é o universo interior. A mente sempre se agarra aos sentidos para prazeres e dores. É facilmente absorvida em direção aos objetos externos através dos sentidos. O homem e a mulher têm aspectos mais elevados na vida para além das realizações materiais. A satisfação material por si só não nos leva à felicidade e à alegria que vêm de dentro. Envolver os sentidos e a mente para estudar as reações que se tem aos próprios pensamentos, palavras e ações, isso é o mundo interior.
Nossos sentidos são como cavalos, o corpo é a carruagem, a mente as rédeas, e o cocheiro é a alma ou o Ser. Se as rédeas estiverem soltas, os cavalos correm soltos e acabam num desastre. Da mesma forma, a mente indisciplinada vagueia em direção aos objetos atraentes do mundo. Disciplinar a mente e controlá-la é o que ensina a ciência do yoga. Através de tal disciplina, a energia é economizada e assim é usada para a vida correta, o pensamento correto e o entendimento correto de si mesmo. Em resumo, eu digo que ela ensina a verdadeira arte de viver. Isto é pensamento interior.
O corpo é o templo da alma. O corpo e a mente estão inter-relacionados. Eles são a causa e o efeito um do outro. Se a causa estiver correta, o efeito também será bom. Por exemplo, se o corpo é saudável, a mente também será saudável. Se a mente não estiver saudável, o corpo não funcionará corretamente. Observe quando uma pessoa está com raiva ou irritada, seus nervos são perturbados facilmente e isso atrapalha suas atividades físicas. No caso de uma pessoa doente, ela é mais irritável, tem menos equilíbrio do que um indivíduo fisicamente apto. Portanto, desenvolver o corpo é um meio de disciplinar a mente. Ambas disciplinas ajudam a desenvolver a personalidade, pois a personalidade nada mais é do que a unificação das características físicas, psicológicas, emocionais e intelectuais de uma pessoa.
Agora voltando ao aspecto da personalidade. No yoga, pratyāhāra é restringir os sentidos. Deveríamos conhecer as causas das aflições da mente. O sábio Patañjali analisou isso em dois de seus Yoga Sutras. Um deles é: Vyādhi styāna saṁśaya pramāda ālasya avirati bhrāntidarśana alabdhabhūmikatva anavasthitatvāni cittavikṣepaḥ te antarāyāḥ e o segundo é: duḥkha daurmanasya aṅgamejayatva śvāsa praśvāsāḥ vikṣepa sahabhuvaḥ (ver Y.S. 1.30 a 31). A fraqueza do corpo e da mente, o torpor, a indecisão, o descuido, as ilusões, a preguiça, a instabilidade, o sofrimento de dores leves ou intensas, doenças e desespero, até mesmo uma respiração muito superficial, oca e pouco ritmada são, diz ele, distrações da mente. Assim, a fim de manter a mente num estado de bem-estar, o sādhaka cultiva amizade com as pessoas, compaixão com os inferiores, alegria com aqueles que estão melhor na vida e indiferença em relação ao vício e a virtude, prazer e dor – Maitrī karuṇā muditā upekṣānām sukha duḥkha puṇya apuṇya viṣāyāṇāṁ bhāvanātaḥ cittaprasādanam (Y.S., 1.33). Dessa maneira, quando a atitude mental for adquirida, ele não terá uma mente equilibrada?
Quando o corpo está saudável, alguém está consciente disso? Você tem consciência da ponta da sua orelha ou do seu nariz, a menos que haja uma ferida? Assim também quando a mente é levada a um estado de quietude, o que resta? A essência do eu. Não é? Quando o combustível é extinto do fogo, você ainda vê o fogo ou a chama? Assim também, quando o vāsanā ou o fogo dos desejos se extingue, a mente se transforma em conhecimento e iluminação. Quando você alcança tal estado, não pode haver maior glória ou maior alegria. É um estado em que o corpo, a mente e a alma são um. Isso dá à personalidade o poder de atrair. Aqui, a beleza externa não é considerada em absoluto.
Fonte: Yoga Rahasya Vol. 14, nº2, 2007, p. 24-27.
Tradução: Mónica Fontana.
Revisão: Fernando R. Sánchez Lynn
Agradeço ao prof. Fernando Lynn que gentilmente cedeu este artigo para o meu blog, este artigo é parte da biblioteca de sua escola - Iyengar Yoga Recife.
AUM
Elaine Moreli
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