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DO CORPO A ALMA

Foto do escritor: Elaine MoreliElaine Moreli

Assim como riachos de nascentes diferentes que se juntam e fluem como um só grande rio que os liga, unindo a montanha ao mar, também o sistema humano forma um só rio que corre da alma até a pele e da pele até a alma.


Embora o àsana seja, as vezes, descrito como ginástica física, essa descrição é bastante equivocada porque àsana significa antes postura, e depois a permanência, a reflexão e o repouso. Àsana não é só exercício. Você tem de observar que as fibras da pele estejam paralelas com as da carne para que a ação e a cognição sejam conjugadas e a mente possa sentir que há ioga, ou contato. Ioga significa união ou conexão. Se a mente, por meio do órgão perceptivo da pele, não sente que você esta presente no àsana, então se trata de algo puramente físico.


Sem conhecer as letras do alfabeto, como aprender a ler ou escrever? Da mesma forma, sem conhecer o alfabeto do ioga, que se compõe de yama, niyama, àsanas, pranayama, pratyahara, dharana dhyana e samadhi, é impossível viver a morada do eu.

Para entender isso mais claramente, consideremos os quatro estágios da pratica do ioga descritos nos textos antigos. O Hatha Yoga Pradipika, o Siva Samhita (outro importante texto sobre hatha-ioga) e o próprio Patanjali falam dos quatro tipos de praticantes de ioga.

No principiante, a mente sempre correrá pela superfície, que é o corpo físico. Nesse estágio, você tem de trabalhar com dharana, ou concentração. Sua mente esta completamente desmembrada; você não sabe o que fazer. Por isso, ensinamos a conscientização das várias partes do corpo: primeiro sinta os pés, depois os tornozelos, ligue o tornozelo ao pé, então aos joelhos, ligue o joelho ao tornozelo, ao pé, depois a parte inferior do tronco, a superior, as axilas, o pescoço, o rosto e assim por diante. Assim, com o ensino dos àsanas, levamos a vastidão e a multiplicidade da inteligência, de um estado de concentração dividida, para uma concentração única. Mas ainda estamos trabalhando no nível superficial do corpo físico.

O segundo estágio é fazer com que a mente sinta a ação. Primeiramente, pedimos apenas que o aluno se concentre nas diferentes partes do corpo, uma em relação a outra. Depois dizemos: “ sinta a mente enquanto esta fazendo isso. A mente esta se movendo com você ou não, só esta vendo, observando?” Nesse segundo estágio, pedimos: “ Agora vá com a sua mente! E deixe que seu dedo também vá com sua mente, Deixe o joelho agir também com sua mente” Existe uma diferença entre levar a mente às diferentes partes do corpo, conforme elas vão se movimentando, e pedir que a mente se movimente com o corpo. O primeiro estágio é chamado Arambhavastha, o estado do começo. O segundo é ghatavastha, o estado do corpo. Primeiro você não conhecia o corpo, só conhecia o tornozelo, o joelho, e outras partes. Agora, você deve conhecer o corpo como um todo, através da mente.

Quando a mente conheceu o corpo, tem inicio um terceiro estágio, chamado de parichayavastha – familiarizar-se ou ter íntimo conhecimento. Aqui, você faz com que a inteligência se familiarize com o corpo. Da mesma maneira como duas pessoas são apresentadas uma à outra por uma terceira, a mente introduz o corpo à inteligência, que é o terceiro veículo do ser humano. A mente diz para inteligência: “ Olhe o que esta acontecendo aqui. Quero apresenta-la ao meu joelho. Ao meu tornozelo. Aos meus braços. Isso é parichayavastha, familiarizar-se: familiarizar a inteligência com o corpo por meio da mente. É como a pessoa que apresenta você a mim. Depois de nos apresentar, essa terceira pessoa desaparece e nós ficamos amigos. Da mesma maneira, a mente desaparece, e a inteligência e o corpo se tornam um.

Após a etapa da familiarização por meio da inteligência, chegamos ao quarto estágio: nispattyavastha , o estado da perfeição ou maturidade. Quando a inteligência sente a união entre carne e pele, ela apresenta o eu, o atman (alma) dizendo: “ Veja o que eu fiz! Venha e veja!” Então, como você esta perfeito na postura, ao apresentar o corpo, a mente, a inteligência e o eu, eles estão todos presentes, em paralelo na execução do àsana. Isso é estar liberto do corpo. Nesse momento, o corpo é esquecido, porque tudo esta fluindo na mesma velocidade e na mesma direção. Patanjali diz, no terceiro capitulo de Yoga Sutras, que o corpo do iogue deve se mover na mesma rapidez que sua alma.


......”Ioga significa reunir, juntar, unir. Isso quer dizer colocar junto o que Deus lhe deu – o corpo, a mente e a alma. Existe uma grande desintegração, em cada individuo, entre corpo, mente e alma. A arte do ioga foi dada aos sábios da Antiguidade para reunir esses veículos perturbados do eu, de tal modo que a humanidade como um todo possa desenvolver essa união desses três.

Assim como riachos de nascentes diferentes que se juntam e fluem como um só grande rio que os liga, unindo a montanha ao mar, também o sistema humano forma um só rio que corre da alma até a pele e da pele até a alma.

Como podem dizer que se interessam pelo rio da mente ou pelo rio da alma, negligenciando o rio do corpo? Como podem descartar alguns dos membros do ioga dizendo que são só físicos, ao passo que a meditação é espiritual? – A meditação não é separada do ioga, nem o àsana é separado do ioga.

Seu corpo tem diversos membros. Que parte você negligencia e de qual você cuida, para manter todo corpo em bom estado de saúde? Cada uma das partes do nosso corpo, da nossa mente, do nosso cérebro, é igualmente importante. Acontece o mesmo no ioga. Você não pode separar os diversos membros ou aspectos do ioga. Cada uma das partes do ioga e todas elas tem igual importância. A arte do ioga começa com um código de comportamento para construir uma conduta moral, uma conduta física, uma conduta mental e uma conduta espiritual. Sem conhecer as letras do alfabeto, como aprender a ler ou escrever? Da mesma forma, sem conhecer o alfabeto do ioga, que se compõe de yama, niyama, àsanas, pranayama, pratyahara, dharana dhyana e samadhi, é impossível viver a morada do eu. Portanto, meu pedido a todos vocês è: busquem entender a profundidade do ioga começando pela periferia , para então atingir a semente. Apenas poucas e extraordinárias pessoas são capazes de começar a partir da essência do ser.”



Fonte – A Árvore do ioga – a essência do ser e sua viagem – B. K. S. Iyengar




Leia mais, visite o nosso Blog " Yoga - Palavras do Instante - Suspiro da Alma"

Pratique yoga "Mahadeva Yoga Shala"



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