Para onde vamos nós quando nos colocamos em nossos tapetes de yoga?
Quando decidimos fazer uma viagem escolhemos um belo destino, no mínimo viajamos para um lugar agradável, caprichamos no itinerário e pontuamos tudo que possa nos trazer prazer. Bom, o fato é que essa viagem é para um local externo e quem decide o destino somos nós, e obviamente que está sujeito a alterações de rota e até mesmo do destino final caso o percurso não nos agrade. Pois é assim que agimos.
Vejamos...
Para onde vamos nós quando nos colocamos em nossos tapetes de yoga? Quando desenvolvemos nosso sadhana, quando nos colocamos como praticantes estudantes?
O fato é, quando nos deparamos com uma imagem, assim como esta, não imaginamos o que há por de trás da mesma, nossa mente registra, algumas vezes julga o que vê, outras vezes copia-se o que está sendo visto. E algumas vezes critica-se o que vê.
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Convido-te a sentar do meu lado neste momento.
Escute-me.
Feche seus olhos e faça uma inspiração mais profunda, então exale longo, lento, profundo e suave.
Apenas esteja aqui comigo, vou lhe descrever o que você não pode ver nesta imagem.
Antes, reflita sobre o que vou lhe dizer:
“Quantas vezes nos limitamos por nossos velhos hábitos? Quantas vezes escolhemos - o prazer à dor? Quantas vezes preferimos tudo que nos “parece” agradável e confortável? Quantas vezes desejamos liberdade e permanecemos presos a escravidão?
- no fundo, poucos compreendem que o que parece ser agradável no início pode ter gosto amargo no final, que o lugar confortável geralmente não é o lugar que mais aprendemos, a dor que negamos seja ela qual for: no aspecto físico, mental ou emocional, ela irá persistir e retornará cedo ou tarde. E para sair da escravidão para liberdade, é preciso uma certa dose de coragem, força interna.
...o que não está visível aos seus olhos.
Neste dia (17/07/2020 aula avançada com o prof. David Meloni) a mensagem minutos antes desta aula foi direcionada para minha professora - Renata Ventura. “ Professora, comunique ao professor David sobre a dor do sacro”. A prof. Renata se faz muito presente em meu caminho, e quando existe a verdadeira conexão professor–aluno, existe confiança, admiração, amor e acima de tudo muito respeito.
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Essa guiança faz toda diferença, e eu sempre fui muito clara ao respeito que tenho a quem me guia. É a escuta e o direcionamento.
Durante todo esse processo referente a tal dor no sacro Renata se fez e se faz novamente mais que presente, uma vez que sendo minha professora conhece um pouco do histórico, também meus hábitos na prática e a minha disciplina em relação ao caminho. Devido às mudanças ocorridas nesta jornada em relação ao foco dos meus estudos, antes com a professora Analu Matsubara a quem sou e serei eternamente grata e quem se faz presente na minha vida, fui direcionada a professora Renata, e Analu me disse – "Você segue em boas mãos amada, e seguimos juntas." Ter essa fala de uma guiança para outra me fez seguir de forma muito leve.
Assim é, Renata que mesmo antes de conhecê-la também já me inspirava, me recebeu, me incluiu e me ouviu desde o primeiro dia de aula, a fala e a escuta tornaram-se fundamentais. E dessa forma nasceu uma relação entre professora/aluna saudável, amorosa e respeitosa.
Eu sigo e segui passo a passo o que me foi e é orientado tanto nas aulas como na minha prática pessoal.
Bom, com 22 anos quebrei o cóccix em um acidente de carro, eu era só uma “menina” e não compreendia o que isso estava me relatando exatamente naquele momento da minha vida. O que posso afirmar? - inúmeras dores e em todos os sentidos. E a dor física...bom ela vem e vai.
Desde 2019 nos estudos das aulas terapêuticas, passei a cuidar e ter um olhar mais refinado
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a essa parte do meu corpo e sua memória.
O detalhe desta aula é que eu estava em processo de dor há uns 35 dias, e essa dor me impossibilitava fazer extensões para trás e isso realmente me levou a lugares bem desconfortáveis e bastante reflexivos. Não mudei minha rotina por isso, o que fiz foi mudar o foco da minha prática pessoal buscando o entendimento do que era preciso.
Todos temos o livre arbítrio:
- escolher o prazer e evitar a dor, querer apenas o agradável ou o que realmente precisamos,
- escolher o itinerário da viagem ou ser surpreendido, continuar ou desistir.
- Ser livre ou manter-se aprisionado, escravo das situações e de nossos padrões comportamentais.
Bom, o fato é que aqui acontece assim:
Visitar a dor pode ser um processo para compreensão. O corpo nos foi dado em pleno funcionamento, e se ele se desequilibra somos nós também responsáveis, eu acredito que direcionar o prana a todas as partes do meu corpo é permitir que ele retorne ao seu funcionamento, visitar a dor e levar energia ao ponto vejo como uma forma de ameniza-lá ou até mesmo cura-lá, evitar o agradável pode ser amargo apenas no momento.
Viagem programada e com roteiro certo? - não.
A viagem tem apenas data e hora inicial - dia e inicio da aula.
Para onde vou? – lugares desconhecidos e não comunicados de visitações.
Não sou o guia, não tenho o itinerário, deixo-me ser guiada e o principal, eu confio na guiança.
Surpresas infinitas! Visitar ilhas desconhecidas é de fato surpreendente. Exige força interna, confiança, fé, coragem e acima de tudo acreditar no caminho. Entrega, para mim devoção. Essas visitações, uma das maravilhas que me encanta dentro do método Iyengar Yoga.
“A nossa mente é tanto perceptiva como ativa. Seja ela brilhante ou ignorante, está equipada com uma ferramenta de sobrevivência simples e instintiva “ Repita o prazer e evite a dor”. Encarar nossos padrões de comportamento é super difícil. (...)
Eis o poder da guiança, nos faz enxergar aquilo que sozinho não conseguimos. Nos possibilita levar luz onde não há. Quanto mais estudamos, refinamos o aprendizado e somos instigados a perguntar, a clarear o que algumas vezes escurece. Quem acende a luz? Isso é a guiança, sabemos que não estamos navegando a deriva.
Uma das coisas que mais admiro no Iyengar Yoga é que nunca paramos de estudar, todo professor é aluno, e somente vivendo neste universo de estudos constante reconhecemos e entendemos tudo que Guruji nos deixou. E assim entendemos a importância e a grandeza de ter a quem perguntar. De ser guiado.
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Cultivar o estado vazio é o que me preenche da benção que é receber.
Portanto, agradecer, honrar e respeitar a guiança é uma atitude nobre, que faço questão de cultivar dia-a-dia. Gratidão por todos os exemplos, dedicação, humildade e amor ao caminho.
yogash-chitta-vritti-nirodhah || 2 |
योगश्चित्तवृत्तिनिरोधः ॥२॥
o aquietamento das ondas mentais é yoga.
Elaine Moreli
Emocionante! Texto cheio de cabimento para minha jornada! Obrigada professora.