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GUIANÇA parte II

Foto do escritor: Elaine MoreliElaine Moreli

Se você não leu meu último post

Leia para compreender melhor o que segue aqui.


Quando o professor David Meloni iniciou a aula eu logo entendi que ele iria para o grupo de posturas de extensões para trás. A minha viagem seria longa, o destino final? - Ou o àsana final, naquele primeiro momento ainda não estava claro para mim.

Então eu tinha duas opções uma vez que extensões para trás se faziam impossíveis ao meu “pensar”.

Seguir ou desistir.

A mente realmente é um cativeiro ou libertação.

Em fração de segundos, passou um mês inteiro na minha cabeça, todo o meu empenho em relação ao sacro (dor), todas as orientações da minha professora (Renata Ventura) . Tudo que havíamos trabalhado principalmente naquela semana.

Em milésimos de segundo minha mente dizia, desiste, sai da aula, vai embora.

Mas o fator principal não estava na minha mente, estava registrado no meu ser.

Eu sabia que quem estava me guiando não apenas havia sido informado do "problema", era exatamente o professor que proporcionou ao meu caminho uma visão clara sobre a relação “professor - aluno, sobre devoção e simplicidade, força e coragem, sobre fé e humildade, generosidade e compaixão.” Alguém que com maestria também tornou-se meu guia nesta jornada. Que proporcionou através de seus ensinamentos uma mudança enorme em meu sadhana e por consequência em minhas atitudes.

Em fração de segundos meu suor caia sobre o mat, meu corpo esquentava e meu coração disparava, minha mente dizia – peça licença e saia.

Mas em milésimos destes mesmos segundos eu consegui ouvir a voz real, do meu coração. "Fique e confie, essa aula faz parte do processo, respeite seus limites e siga, todo trabalho das aulas e teu sadhana lhe prepararam para hoje." Ali eu disse – ok Guruji eu confio na guiança.

E assim fiz, respirei e mantive minha mente somente ali, adaptei o necessário seguindo as orientações, e com muita precisão na escuta segui a fala da guiança. Entrega absoluta. Confesso que ali descobri o significado de prathyahara - totalmente absorvida.


...Você mudaria o itinerário desta viagem?


David nos guiou em uma viagem longa, deparei-me com boa parte das minhas fraquezas em uma única aula, me levou a reconhecer uma a uma, deparei – me com limitações físicas e mentais. O destino final - kapotasana, e como sempre uma viagem totalmente precisa.

O fato é que eu estava ali, absorvida e confiante e a cada ação interna eu buscava precisão. “tenha olhos nos poros de todo seu corpo”, negligenciar a ação seria retornar ao meu estado de sono e dor.

Minha mente não tinha como fugir, dharana – concentração foi recrutada a partir do coração e não do meu intelecto.

Ahymsa é não violência, e há uma grande diferença em evitar a dor e tentar compreende-la, muitas vezes “usamos” dos conceitos para ficar ali, no lugar - estagnado. David direcionou inúmeras variações, e então com segurança, prontidão e viveka – discernimento, eu pude viajar de forma segura e respeitosa. Meu objetivo não era jamais desrespeitar-me, isso não corresponde ao que é yoga, chegar ao destino final - kapotasana seria apenas uma consequência, para mim era o entendimento sobre kapotasana, o que ele estava me ensinando, o que o percurso para esse destino traria de clareza ao meu Ser.

Foi uma aula intensa, e quando David nos direcionou ao último àsana (viparita karani na cadeira com blocos no sacro e bolster nas dorsais), bom ali minhas dorsais deram um estalo e meu sacro se moveu. Eu senti meu coração pulsar no corpo todo e o choro, talvez guardado desde o acidente foi inevitável. Ali não foi o cinto que compactava o meu quadril que foi desatado, foi desatado ali o ponto de conexão com a memória da dor. Foi isso que chegou para mim. Enquanto isso, David começou a falar sobre a forma como enfrentamos os nossos medos, sobre nossos hábitos, sobre o que temos gravado dentro de nós, falou sobre o acesso a transformação, a mudança de nosso comportamento. Sobre tapas a nossa disciplina, sobre confiança, fé e coragem, compaixão e aprendizado. Sua fala confirmava tudo o que sentia.

Quando nos sentamos, eu fiz um agradecimento interno a Guruji e a todos os professores que já tive, agradeci imensamente a David Meloni e Renata Ventura, queria dizer a eles apenas uma palavra – gratidão.


Eu entrei em silêncio profundo.

No domingo, a minha percepção era que o cóccix estava retomando o seu devido lugar e o que ainda restava – a nível mental, emocional e também físico entrou em processo de dissolução. Restava ali 30% talvez da dor física.


Entendi na minha experiência o sentido real - o amargo a principio tornou-se mais doce.

Encontrei um bom lugar na dissolução da intensidade da dor. Liberdade interna quanto a isso e quanto a minha forma também de lidar com isso. Se a dor irá retornar? Não sei, mas a forma como olhar para ela, será sim diferente.

Guiança é fundamental, respeito e confiança imprescindível. Clareza!

A aula foi direcionada para mais de 60 alunos, mas eu fiz daquela aula a minha aula. A minha atitude interna foi – "esta aula é exatamente o que eu preciso."

Muitas vezes o aluno espera que o professor lhe dê exatamente o que ele quer. Lembro de GeetaJi dizendo na aula em Pune (2018) que muitas vezes como alunos nos comportamos como crianças. Alunos geralmente querem tudo como "desejam". Mas não é esse o nosso papel. O papel do professor é dar ao aluno o que ele necessita.

E ter a compreensão que o que necessitamos nem sempre é o que desejamos , com certeza nos faz compreender o quanto que o ego é astuto e sinal de grandeza será cultivar a humildade. O professor está ali possibilitando acessos, direcionando a sair do lugar, com amor e compaixão. Ter esse discernimento, essa compreensão é fundamental. Não existe mágica, existe comprometimento e responsabilidade mútua. O professor acende a chama, mais vai de cada aluno cavar para dentro de si, para que isso se torne uma clareira. Maturidade na compreensão.


Agradeço todos os dias por este acesso a guiança.

Àsanas muito além do que se vê, tão profundo e curador.


Com amor reflita a cada destino, cada viagem, cada trajeto.

Reflita sobre posicionamento interno, comportamento, falas e atitudes. O tapete é apenas um reflexo do que somos e a forma como nos posicionamos perante a vida, as situações e as pessoas. A forma como nos relacionamos como seres humanos. No tapete estão expostas as nossas ações e reações perante fatos, pensamentos, emoções e palavras. Nossas fraquezas e nossa coragem. Nele reflete tudo que somos! E a forma como lidamos com as situações que nos chegam, que vivenciamos!


Sutra 1-12 ABHYASA VAIRAGYABHYAM TANNIRODHAH

Estas alterações mentais são contidas pela prática e desapego.



1 comentario


fabianacavagnini
12 abr 2023

Mil vezes obrigada!

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