"Praticar ioga é remover as ervas daninhas do corpo para que o jardim floresça."
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Quando o ásana é feito corretamente, os movimentos do corpo são suaves; há luz no corpo e liberdade na mente. Quando o ásana produz sensação de peso, está incorreto. Você deve tentar transmitir a sensação de leveza para todo o corpo. Para isso, é preciso estender-se mentalmente para fora a partir do centro do corpo, ou seja, pensar alto e agir rumo ao alto. Pense não apenas em erguer os braços, mas em estendê-los para fora no sentido físico, e, ao mantê-los imóveis, pense de novo em estender a inteligência, alongando-se mais além do seu corpo. Não pense em si mesmo como alguém pequeno, contraído, que sofre. Pense em si mesmo como alguém gracioso e em expansão, por mais improvável que isso pareça no momento. Quando se perde a leveza, o corpo se retrai. No instante em que ele se retrai, o cérebro se torna pesado e vagaroso, e você não enxerga nada. As portas da percepção estão cerradas. Você deve imediatamente erguer a inteligência do peito e abrir a mente.
As laterais do tórax são como pilares: devem estar sempre firmes. A má postura é como um narcótico para o corpo. Quando os pais dizem aos filhos para corrigir a postura, é porque instintivamente sabem que o peito afundado faz desmoronar o Eu. A Alma se retrai porque a mente se retrai. É tarefa da coluna manter a mente alerta. Para isso, ela precisa manter o cérebro na posição correta. A coluna nunca deve afrouxar-se, deve alongar-se até o Eu. Do contrário, a luz divina dentro de nós se obscurece. Ao se alongar no ássana, mantenha essa leveza. É por essa razão que costumo dizer que, em todos os ásanas, é preciso subir para descer e descer para subir. Se quisermos tocar os dedos dos pés, por exemplo, precisamos primeiro estirar-nos para cima e abrir a dobradiça no meio do corpo; então podemos descer. Do mesmo modo, descemos para subir.
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O que estamos tentando fazer é completar um círculo, tal como no famoso desenho das proporções humanas de Leonardo da Vinci, o Homem vitruviano. Nosso objetivo não é romper um cordão puxando-o em duas direções opostas. O que estamos buscando é o equilíbrio da polaridade, não o antagonismo da dualidade. Quando há flexibilidade no corpo e leveza na mente, o ásana está correto. Rigidez e peso demonstram que o ásana está errado. Sempre que há tensão, o cérebro exagera na reação e você fica preso nessa armadilha; aí não há liberdade. O ásana executado a partir do intelecto do coração, com leveza, firmeza e, ao mesmo tempo, suavidade, significa alongamento total, extensão total e expansão total. O ásana feito a partir do cérebro nos deixa pesados; quando feito do coração, nos deixa leves.
Quando o ásana deve ser flexível e quando deve ser rígido? No movimento, todos os músculos devem ser como as pétalas de uma flor: abertos e flexíveis. Nunca fique rígido ao se mover; enrijeça apenas depois que atingiu a posição Assim como o agricultor lavra o campo para amainar o solo, o iogue lavra os nervos para que possam germinar e viver melhor. Praticar ioga é remover as ervas daninhas do corpo para que o jardim floresça. Se o terreno for muito árido, que tipo vida poderá medrar ali? Se o corpo for rijo demais e a mente muito rígida, que tipo de vida os aguarda? Ao contrário da rigidez, a tensão não é boa nem má. Ela precisa estar presente no momento certo, na quantidade certa.
Pesá-la ou equilibrá-la de maneira uniforme é vida. Para os iogues, não há nada nesse mundo que não carregue alguma tensão. Até os cadáveres têm tensão. Você precisa descobrir a dose certa de tensão em seu corpo; ela manterá toda a energia corporal. Tensão demais é agressão. As lesões resultam da agressão, de movimentos agressivos, não da prática da ioga. Mas tensão de menos é fraqueza. Deve haver no corpo uma tensão correta. Esta é a tensão saudável. Todas as partes do corpo devem ser trazidas à vida. Lembre-se: nunca enrijeça durante o movimento. Extensão é tensão, mas não é a mesma coisa que rigidez. A rigidez nos deixa frágeis e nos faz perder o equilíbrio. Devemos alcançar o equilíbrio em todos os níveis do corpo e da existência.
Livro: Luz na Vida
Titulo original: Light on Life
Autor: B.K.S. Iyengar
Tradução: Silvana Vieira
Summus Editorial
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